segunda-feira, 7 de abril de 2008

O triângulo da Europa Central

Senti uma alma diferente em cada cidade. Cracóvia, Praga e Budapeste constituem um triângulo de histórias na Europa Central. Viajei de comboio entre estas elas. Sempre durante a noite para aproveitar mais os dias. Fiquei com alguma nostalgia de não ter viajado durante o dia para aproveitar a paisagem, mas foi a minha opção de viagem.
Comecei em Cracóvia. È um charme de cidade. Fiquei alojada no Flamingo Hostel, muito perto da praça central, com um ambiente simpático e boas condições. A partir dali é possível conhecer a cidade a caminhar, misturada com os turistas e os habitantes locais. Cracóvia foi uma das poucas cidades Polacas completamente poupadas dos ataques alemães durante a Segunda Grande Guerra. É um dos motivos que faz dela um lugar especial e místico. Existe uma lenda que diz que Shiva deixou uma pedra lá, o que faz com que os Hindus a visitem com regularidade e que outras pessoas procurem paz espiritual naquela cidade. Dizem que foi um lugar protegido por um ente superior e por isso não foi destruída. Haja verdade ou não na lenda, na verdade está intacta e passou pela guerra sem a destruição que a caracterizou por muitas cidades europeias. Cheguei à estação de comboios com recantos de Arte Nova de manhã cedo e já está muito movimentada. È possível ir a pé até ao centro da cidade por ruas antigas que deixam no ar o cheiro de outros tempos. Não é preciso dizerem onde é o centro, porque percebe-se pela grandiosidade da praça medieval. Comece pela magnífica praça central, a Rynek Glówny rodeada de cafés e restaurantes, ou então fique apenas sentado a olhar as pessoas que passam. A igreja, o mercado fechado, as senhoras que vendem flores e as cores do amanhecer. Depois de pousar a mochila no quarto é a hora de sair para conhecer. É possível conhecer tudo andando a pé. Vêem-se várias pessoas de bicicleta e poucos carros. Da praça até ao castelo de Wawel Hill, são apenas umas ruas. Quando cheguei a Wawel Hill fui presenteada por uma vista magnífica sobre o rio Vístula, o rio maior da Polónia que a corta em duas partes. Como Cracóvia é uma cidade muito religiosa tive a sorte de assistir a cerimónias na catedral de Wawel Hill, com a procissão e os devotos cristãos em trajes de festa. De lá soube-me bem parar nas margens do rio, sentada na relva, onde alguns polacos aproveitavam para apanharem sol. Passei uma ou duas horas sentada a ler debaixo de uma árvore. As margens do rio têm um encantamento em mim, como vim a verificar mais tarde nas margens do Rio Vltava e do Danúbio. Além do encantamento das margens do rio, aquele lugar liberta uma paz mística para quem está à procura de descansar. De lá fiquei a meio caminho para a zona do Kazimierz, onde se podem encontrar vestígios dos bairros Judeus, uma vez que foi onde viveram até à Segunda Guerra Mundial. Curiosamente mantêm Sinagogas que passaram imunes aos ataques Nazis, sendo a mais antiga do século XV. Esta zona é diferente do centro da cidade em termos arquitectónicos, assim como das pessoas que se veêm nas ruas. Pareceu-me mais artística e frequentada por pessoas com modus vivendis alternativo. Os cafés são mais típicos e antigos do que no centro, guardando a memória de outras vidas que por lá se construíram. Se tivesse de escolher onde ficar, seria ali sem sombra de dúvida. É importante andar nas ruas e espreitar as entradas das casas, porque muitas escondem pequenas esplanadas. Todos com um encanto próprio, com uma decoração adequada e com pessoas que se sentam para saborear a sombra. Se me imaginasse a escolher um lugar para procurar paz de espírito aliado à beleza do lugar, penso que Cracóvia seria sem dúvida um destino a ter em conta.
Com alguma pena, deixei Cracóvia em direcção a Praga, mas a viagem continuava e a ideia era seguir um trilho que terminaria em Budapeste. O trilho dos grandes rios da Europa Central. Voltei a chegar a Praga de manhã cedo e tive de procurar alojamento. É importante reservar com antecedência porque é uma cidade muito turística e os hotéis estavam quase todos cheios. Quando finalmente arranjei onde dormir, pousei as malas e lá fui a pé conhecer esta cidade de encantamento de conto de fadas. Esta cidade é grandiosa: Os edifícios são altos e com fachadas muito bem tratadas. Parece que anda sempre um zelador por toda a cidade a pintar aqui e ali para ter sempre um aspecto novo. O centro da cidade é medieval e por isso as ruas cruzam-se levando a que pareça um labirinto que se move por forças estranhas só para me confundir. Nos vários dias que andei por ali a pé nunca fui capaz de saber onde estava. Nem com o mapa da cidade na mão. De um lado do Rio Vltava a zona do castelo e Malá Strana e do outro lado do rio, Staré Mestro ou a cidade velha. Para atravessar encontram-se várias pontes, mas a mais interessante é Charles Bridge, talvez por ter artistas ao longo do percurso e ser uma das mais bonitas. Por outro lado, em dias de calor e principalmente ao fim de semana é muito difícil fazer a travessia porque a multidão é imensa. Contudo vale a pena parar por ali, quer seja durante o dia, quer seja durante a noite, porque fica-se mesmo a meio entre as duas partes de Praga e pode-se imaginar todo um conto de fadas a partir dali. Subi até ao Castelo, sem que no caminho parasse num dos belos cafés para me refrescar e aproveitar os raios do sol que batiam nas casas pintadas de cores animadas. A zona do castelo parece uma pequena vila típica, com casas pequeninas, onde se pode imaginar Kafka a deambular por ali. Dali aproveitei a vista sobre a cidade e a magnificência do castelo e dos jardins. Gastei um dia a percorrer as pequenas ruas e apreciar cada pedaço de casa com um estilo diferente das do outro lado do rio. Mas foi do outro lado que me senti uma princesa presa nas minhas sapatilhas cor-de-rosa. À noite, enquanto via as luzes que iluminam o rio e todo o castelo: sem dúvida um dos momentos mais soberbos da estadia na cidade. Na cidade velha encontram-se edifícios lindos com as fachadas em Arte Nova ou Estilo Gótico cuidadosamente guardados para manter todo o glamour dos tempos do império. Não me admira que tenha sido tão cobiçada por vários impérios. Cada porta, cada maçaneta, cada janela, cada candeeiro é uma pequena ode à cultura. As flores por todo lado a pintarem as cores paredes de outras cores. O ideal é manter os olhos bem abertos para espreitar para dentro dos cafés e ver a decoração ou então entrar e ficar a beber uma cerveja no entardecer enquanto se descansam os pés. Se me pedissem para descrever em duas palavras a cidade de Praga, diria apenas “É um conto de fadas” ao ar livre e sem figuras animadas de outras histórias. Com música, marionetas e teatro do negro mesmo à mão de quem queira uma experiência diferente das habituais quando se vai de férias. Uma vez mais chegou a noite e peguei na mochila para ir apanhar o comboio que me levou a Budapeste. A expectativa a aumentar depois de Cracóvia e Praga. E uma sensação de que teria de voltar a ver Praga, mas da próxima vez com menos turistas para sentir o cheiro mais intenso da Republica Checa. Porque admito que se tem de estar preparado para enfrentar muitos turistas. Na despedida, Praga promete ser melhor para a próxima vez que a visitar. Sussurrou-me promessas de mais romantismo e de mais solidão para a próxima visita.
“Budapeste aqui estou eu!” – Foi o que me apeteceu dizer à chegada da estação de comboios. Quando cheguei a Budapeste tive de abrir bem os olhos para conseguir assimilar as discrepâncias entre os velhos edifícios de outrora e os novos edifícios com fachadas espelhadas. No primeiro impacto fica-se chocado. Eu fiquei chocada quando vi. Tive de preparar os olhos porque percebi que ali ao contrário das outras cidades anteriores, esta não mantém o mesmo glamour parado no tempo. Em contrapartida, é nesta cidade que se encontram as pessoas mais simpáticas e onde se sente mais intensidade de vida. Parece que está a crescer. Parece que se quer virar para o ocidente com o que tem de bom e claro levando o menos positivo também. Cheguei cansada e decidi passar a tarde nos banhos termais e realmente é exactamente como tinha lido nos guias. Escolhi um dos mais antigos que fica situado no Danubius Hotel Gellért. Um hotel em Arte Nova com uma piscina interior toda em Arte Nova onde o sol entra pelos vitrais causando efeitos mágicos na água. Depois de uma tarde a descansar estava preparada para explorar os recantos da cidade. Entre autênticas relíquias do domínio soviético em vários pontos da cidade, o rio Danúbio, a ilha e o metro mais antigo da Europa passei um dia fantástico a recordar a história da Hungria. Na ilha do rio Danúbio avista-se a cidade, mas mais do que isso descansa-se e perde-se tempo da agitação das ruas. Aproveitei para respirar ar puro e ficar sentada a ler com os olhos postos no Danúbio. De Buda trago as memórias medievais do castelo e arredores e de Peste o sabor dos cafés tradicionais. Diverti-me nas noites de Buda que conheci pelas mãos de um estudante alemão. E perdi-me a fotografar as pontes sobre um dos rios mais mediáticos na minha memória.
Abandonei Budapeste de avião. A vontade era tal que quase fiquei perdida a fumar no aeroporto enquanto esperava pela hora do embarque. Acho que estava demasiado afeiçoada às estações de comboios. Tinham sido uns dias muito bem passados naquele triângulo de cidades tão diferentes e tão próximas.

1 comentário:

mhelen disse...

Amei seu blog. Não deixe de nos descrever suas viagens. Parabéns!!!